Inteligência artificial na saúde: Riscos e vantagens

Oct 30 / Margarete Cardoso
A Inteligência Artificial (IA) na Saúde tem ganho destaque como uma ferramenta essencial para a modernização dos cuidados de saúde. Capaz de melhorar diagnósticos, tratamentos e otimizar processos, a IA promete revolucionar este setor. No entanto, com esta evolução, surgem novos desafios e riscos. A Health UP reuniu a Margarete Cardoso, CEO da empresa, e o Daniel Costa Pinto, consultor da Direção-Geral da Saúde (DGS), para discutir as oportunidades e as preocupações associadas ao uso da Inteligência Artificial na Saúde. Ambos sublinham o enorme potencial desta tecnologia, mas alertam para a importância de uma implementação ética e segura. 

A Margarete Cardoso não tem dúvidas: "Ainda não estamos preparados para os desafios que a Inteligência Artificial pode representar na Saúde, mas precisamos de estar, porque a Inteligência Artificial já faz parte dos sistemas de saúde e só vai ganhar mais espaço". Apesar dos inúmeros benefícios da evolução tecnológica, como a melhoria de diagnósticos, é crucial que os desafios sejam "muito bem geridos para garantir a segurança do doente", sublinha a CEO da Health UP.

IA na saúde? Sim, mas com conhecimento dos riscos

Um dos principais desafios na utilização da Inteligência Artificial na Saúde, de acordo com a Margarete Cardoso, relaciona-se com a proteção de dados. "É essencial que os utentes compreendam claramente como os seus dados vão ser utilizados", explica. Adicionalmente, é fundamental garantir total transparência nas decisões que a IA ajudará a tomar.

Outro risco a ser minimizado é o erro. Segundo a CEO da Health UP, "erros podem gerar diagnósticos incorretos ou recomendações inseguras". Ao contrário de um erro humano, que geralmente afeta apenas um paciente, "um erro num sistema que utilize a IA pode impactar muitos doentes de uma só vez".

Um dos riscos mais preocupantes, salienta, é o enviesamento dos algoritmos. "Se os dados não forem fiáveis, as decisões também não o serão", alerta. O que pode, inclusive, perpetuar desigualdades já existentes no sistema de saúde.

A segurança cibernética também tem de merecer a nossa atenção. Com o aumento do volume de dados digitais e da dependência da IA, as unidades de saúde devem adotar medidas robustas para proteger a segurança dos pacientes e dos seus dados digitais, defende Margarete Cardoso. 

A importância da regulamentação da IA

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou que, se mal geridos ou implementados, os sistemas de IA podem introduzir riscos significativos e criar obstáculos aos cuidados de saúde, além de agravar desigualdades. Os riscos éticos incluem o respeito pela dignidade humana, autonomia e justiça, bem como a privacidade e segurança dos dados.

A OMS sublinha também a necessidade de prevenir o viés algorítmico e assegurar a transparência dos sistemas de IA.

A União Europeia também já está a trabalhar na regulamentação da Inteligência Artificial na Saúde, com a Lei de Inteligência Artificial, aprovada em 2024. Esta legislação prevê medidas como a proibição de sistemas de IA com riscos inaceitáveis e a aplicação de requisitos de transparência para sistemas de uso geral.   

O uso da IA pelos profissionais de saúde e a formação necessária

Mais do que uma substituição do médico, do enfermeiro ou do técnico superior de diagnóstico e terapêutica, Margarete Cardoso sublinha que a Inteligência Artificial deve ser olhada como um importante auxiliar na tomada de decisões e no diagnóstico clínico. Contudo, isso acarreta responsabilidades acrescidas para os profissionais de saúde. "A utilização incorreta destes sistemas pode resultar em avaliações e tomadas de decisão médica incorretas e, consequentemente, causar danos aos doentes", sustenta.

Adicionalmente, defende Daniel Costa Pinto, Portugal tem um problema de base, pois não valoriza a formação nas instituições, a formação contínua é algo a que poucas empresas já dão muita importância. "Não há planos de formação. E mesmo aquilo que há é muito primário", sustenta o consultor da DGS. Daniel Costa Pinto adianta mesmo que, em muitos países europeus, "são os próprios sindicatos que assumem a responsabilidade de verificar se as empresas dispõem de planos de formação, se os aplicam e de que modo é que eles são cumpridos. Não é só as questões remuneratórias, mas também as condições laborais", frisa. E, com a evolução da utilização da inteligência artificial, a formação dos profissionais de saúde neste âmbito é fulcral.

E, depois, e como já abordado em artigo anterior "Excelência da formação profissional em saúde em Portugal e o impacto da emigração", a própria forma como as infraestruturas hospitalares e de saúde estão pensadas. "Muitas vezes não são pensadas e desenhadas com o intuito de prevenir a segurança do doente", diz Daniel Costa Pinto. Além de que "os equipamentos hoje são cada vez mais diferenciados, especializados, e é necessário existirem planos de manutenção preventiva, que os profissionais os conheçam e saibam aplicar", defende. E esses planos tanto se aplicam aos equipamentos convencionais, refere, como se estendem a equipamentos onde a IA tem já uma forte presença. O consultor da DGS reforça ainda a "importância de os equipamentos de medição estarem afinados, bem calibrados ou, no limite, que o erro de medição é conhecido", para que os profissionais de saúde os saibam ter em conta na interpretação dos resultados. 

Estamos preparados para os mais variados desafios que se nos colocam na incorporação da IA na saúde? A segurança do doente estará em causa? Quais os principais desafios que se colocam na área da segurança do doente para o futuro? Vê o vídeo onde damos resposta a estas questões.

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Para assistires à conversa completa, vê o vídeo da primeira parte onde exploramos em detalhe o impacto das certificações na melhoria dos serviços de saúde e como a sua implementação pode transformar a tua instituição e, na segunda parte, discutimos a formação profissional em saúde em Portugal e o impacto da emigração.


Imagem via Adobe Stock.

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